sexta-feira, 11 de novembro de 2011

132º dia - Capítulo 50 - Um adeus pra daqui a pouco!

''Apesar de tudo, você é a única coisa em
 que penso quando me dizem: Faça um pedido!''
Aloha!!!

Hoje estou com meu humor um pouco melhor. Melhorando pouco a pouco da gripe e sentindo me até mais alegre. Aquela fase de mal humor constante e de agressividade finalmente está dando lugar a noites de sono mais tranquilas e um humor mais brincalhão.
Apesar de uma dor de cabeça que ainda insiste em me irritar, estou melhor. Louco pra voltar pra academia e deixar na esteira todas as minhas frustrações!

Hoje, como estou de bom humor, resolvi que é dia de mais uma historinha. Mais uma vez minhas fantasias e devaneios foram colocados no papel transformando-se em histórias.
Vamos então:
PS: Leiam ouvindo a música que postei no fim. É melhor!

''Luciano acordou apressado. Sentia um aperto no peito, que por mais de uma semana, não deixou transparecer sua preocupação. Roberto, que não sabia o que estava acontecendo, nem ao menos desconfiava, continuava agindo de forma natural.
Desde que Luciano voltou do hospital, uma semana atrás, algo o mudara completamente. Roberto não sabia exatamente o que acontecera lá, e como Luciano não disse nada, achou que estava tudo bem, já que além de namorados, eles eram os melhores amigos.
A cabeça de Luciano não parava de funcionar, não sabia como agir diante de Roberto. Tinha feito alguns testes e estava na angústia de descobrir os resultados e naquela manha seria enfim o fim do seu tormento ou o início de seus pesadelos.

Levantou-se com pressa mas em silêncio para que Roberto não acordasse. Se trocou, foi pra cozinha preparar o café. Aquele dia ele não iria trabalhar. Não tinha forças, não tinha ânimo e a cabeça não o deixaria pensar em outra coisa a não ser no bendito exame. Enquanto preparava o café uma lágrima correu pelo seu rosto. Sabia que sua vida estava pra mudar. Sabia que tudo que tinha construído em questão de relacionamento, estaria por um fio.
Enquanto preparava tudo antes de Roberto acordar, chorou tudo que tinha que chorar e não deixar que Roberto percebesse o quanto ele estava angustiado. Limpou o rosto, se recompôs antes que Roberto chegasse.

Tomaram café normalmente. Enquanto Roberto se divertia com as tirinhas do jornal diário, Luciano tinha um olhar vazio e distante. Olhava para janela, pra nada.
Roberto perguntou o que ele estava pensando, mas ele disse que não era nada demais, era apenas que tinha tido uma noite de sono ruim. Levantou-se e enquanto lava a louça, segurou com todas as forças que tinha o choro e uma lágrima que teimava em querer descer.
Roberto se arrumava pra sair quando o ouviu ao telefone dizendo que naquele dia não iria trabalhar por não se sentir bem. Luciano voltou, deu-lhe um beijo carinhoso e olhando-o nos olhos disse pra não se preocupar. Luciano teve que mentir, e isso lhe doeu o coração e a alma!

Depois que Roberto foi para o trabalho, Luciano tentou se manter ocupado até a hora da consulta, mas nada era capaz de tirar da sua cabeça os piores pensamentos possíveis. finalmente chegada a hora, trocou de roupa e foi para o consultório encontrar-se com o médico.
Chegando lá, já foi logo chamado. Setia uma certa tensão no ar. O olhar do médico era penoso demais o que o deixava mais desconfortável com a situação. Sentaram-se. Com o olhar penoso de antes, só que agora elevado a terceira potência, o médico lhe disse o que ele tanto temia ouvir. Luciano era HIV positivo, num estágio avançado da doença e outros exames mostravam a presença de um nódulo maligno em sua próstata,um câncer, o que tornava o seu caso mais grave ainda.
Segurou um choro o máximo que podia, mas não tinha mais forças. Seu mundo tinha desmoronado e tudo que havia feito até aquele momento foi em vão. E como uma faca sendo enfiada em seu coração, como o tiro de misericórdia, o médico lhe seu a última e a pior das notícias. Ele tinha apenas 3 meses de vida, no máximo.
Sem rumo e sem ter o que fazer, Luciano foi pra casa.

Passou o dia pensando em tudo que ouvira e não acreditava. Chorava e bebia compulsivamente tentando aliviar aquele sentimento de dor e impotência que insistiam em lhe fazer culpado. Chorou suas mágoas e bebeu até não mais resistir. Acabou dormindo e sendo acordado por Roberto que o olhava preocupado.
Luciano estava pálido, olhos inchados. Roberto o olhava com uma preocupação e sem saber o que estava acontecendo, disse que o levaria ao hospital pra saber do que se tratava todo aquele mal estar e palidez que Luciano aparentava.
Luciano num lapso de sinceridade disse que tinha acabado de chegar do hospital e que queria terminar. Roberto o olhou surpreso e sem saber o que estava acontecendo pediu que ele explicasse porque estava agindo daquela forma e porque ele estava cheirando a álcool. Luciano ainda estava meio embriagado e não percebeu o que estava dizendo e acabou contando tudo pra Roberto, num tom um tanto rude por estar bêbado. Ao fim da confissão, Roberto estava completamente sem palavras e olhava-o com horror. Não podia acreditar naquilo que acabara de ouvir. Luciano, após uma chuva de palavrões acabou por cair desmaiado e Roberto o colocou no chuveiro, deu-lhe banho, o deitou na cama confortavelmente e ao seu lado ficou até que ele mesmo pegasse no sono.

Luciano acordou cedo como de costume, mas com uma dor de cabeça infernal. Roberto já havia se levantado, o que não era de costume. Luciano estranhou a falta do companheiro na cama, já que era sábado. Tomou um banho, se trocou. Não se lembrava do que havia acontecido na noite anterior e nem como tinha ido parar na cama. Sentia-se horrível. A única coisa que lembrava era do que o médico lhe dissera. Tinha decidido, enquanto trocava de roupa, que iria contar pra Roberto naquela manhã!

Roberto estava na cozinha o esperando. Olhava pra ele com um olhar diferente. Algo tinha acontecido.
Sentou se ao seu lado, deu lhe um beijo e antes que começasse a se servir, Roberto lhe perguntou se tudo aquilo que tinha ouvido na noite anterior era verdade.
Luciano aos começou a chorar e contou tudo novamente, só que desta vez, sem gritar ou sem falar palavras obscenas. Os dois choravam compulsivamente quando Roberto disse que iria cuidar dele. Luciano relutou no início mas Roberto não iria desistir.

Daquele dia em diante, Luciano abandonou o trabalho. Apenas disse que estava lutando contra um câncer e que não poderia trabalhar. Ninguém precisava saber de toda a verdade, apenas Roberto.
Começou a se dedicar a sua arte preferida, a pintura. reservou um quarto no belo apartamento que eles tinham comprado, e por lá passava seus dias pintando e tetando esquecer que seus dias estavam no fim. Sentia sempre um aperto no peito, mas pouco a pouco foi se conformando com a ideia. O que te deixava triste era saber que teria que deixar Roberto, mas feliz ao mesmo tempo era o fato de saber que roberto estava limpo e saudável. Tinha que prepará-lo para o momento em que ele não mais estaria ali.

Dois meses se passaram. Luciano redecorara o apartamento com seus quadros. Estavam felizes. Roberto ainda não se conformava com a ideia de perder Luciano e que este dia estava próximo. Luciano tentava animá-lo dizendo que estaria sempre cuidando de Roberto, mesmo não estando presente em corpo. Decidiram fazer um jantar naquela noite. Velas acesas, música ambiente, mesa posta, um clima aconchegante muito bem planejado por Luciano. Jantaram e conversaram como a muito tempo não faziam. esqueceram-se completamente do que a vida tinha planejado para eles. Viveram aquele momento especial juntos e depois de muito tempo, entregaram-se a paixão que um dia os uniu. Se amaram durante a noite inteira. Entre amor e conversa, brincadeiras como sempre faziam. E antes de dormirem, Luciano olhou nos olhos de Roberto, e disse que o amava e que daquele dia em diante, sempre estaria ali pra cuidar dele. ele parecia prever.
Na manhã seguinte, Roberto queria fazer-lhe uma surpresa. Preparou o café da manha da maneira que Luciano adorava. Colocou o cd preferido de Luciano.
Quando entrou no quarto, Luciano ainda dormia. Roberto beijou-lhe a face e uma lágrima rolava em sua face. Luciano estava enfim no sono eterno.
Roberto não gritou, não tentou reanimá-lo. Sabia que tinha chegado a hora. Apenas beijou-lhe os lábios gelados e o cobriu. Tomou as providências necessárias e sentou na sala e se permitiu chorar. Luciano o havia deixado. A casa agora parecia maior, sem graça. Nunca mais teria pelas manhãs o sorriso de Luciano e nem sentiria mais o seu cheiro.

Duas semanas depois resolveu enfim arrumar as coisas em casa, depois de tudo que aconteceu. Velório, enterro, haviam exigido demais dele. Resolveu que sua vida continuava e que manteria as memorias de Luciano para sempre em seu coração, mas que era hora de seguir em frente. Começou a arrumar o guarda roupas. Enquanto separava as coisas de Luciano, na gaveta de cuecas encontrou um bilhete:

''Roberto,


Antes de mais nada, me desculpe.
Se você encontrou esta carta, significa que não estou mais com você. Eu te amei. Amei mais do que eu poderia amar alguém nesta vida.

Me perdoe por não ter cumprido a minha promessa de envelhecermos juntos, ter nossos filhos e por não estar mais ao seu lado. Sinto muito por ter ido embora. Você sabe que eu não queria isso.
Me perdoe por ter feito o que fiz com você. A vida me mostrou que por um erro eu posso pagar caro.
Me perdoe por ter adiantado a minha partida. Eu tinha ainda alguns dias antes de partir, mas eu já não suportava mais a dor. A dor que tinha física era até suportável, mas a minha dor interna me machucava mais e a cada vez que eu olhava pra você eu via o meu erro e era difícil suportar.


Fui um fraco quando te traí e fui fraco novamente por ter tirado a minha própria vida por não suportar uma dor que eu mesmo me causei.
Sei que você pensa que minha hora havia chegado, mas esperei que você dormisse e dei fim ao meu sofrimento com minhas próprias mãos. Não culpe ninguém se não a mim!
Eu estou bem. Eu vou ficar bem, pelo menos eu acho. Que esta noite você possa enfim, dormir em paz. Eu estarei velando seu sono. Você não me verá, mas saberá que eu estou ali, sorrindo pra você.
Espero que um dia você possa me perdoar e que possamos nos encontrar em alguma vida. 



Te amo e sempre te amarei.
Luciano Pereira Borges ''

Em meio a lágrimas, Roberto terminou de arrumar o quarto. Começava uma nova era. Um novo dia iria nascer. Um novo amor, mas Luciano seria para sempre o primeiro amor.''

Status do dia: Ócio criativo


Frase do dia: ''Estou naqueles momentos silenciosos em que pouca coisa parece fazer sentido'' Clarisse Lispector


Musica do dia: Angel - Sarah McLachlan



por Maikon Marques